Reconstrução no RS deve considerar riscos climáticos futuros
O Rio Grande do Sul enfrenta um dos maiores desafios de sua história: a reconstrução após os estragos causados pelas enchentes. Especialistas concordam que a retomada deve ser guiada por princípios de sustentabilidade, essenciais para mitigar os impactos das mudanças climáticas.
Aumento das vazões e impacto no nível dos rios
Rodrigo Paiva, hidrólogo, destaca a necessidade de integrar soluções estruturais e naturais na reconstrução. Estudos da UFRGS indicam que a região pode ter um aumento de até 20% nas vazões máximas dos rios nas próximas décadas. Isso resultaria em elevações de 50 cm a 70 cm no nível do Guaíba e do Rio dos Sinos. O cenário é alarmante. Em maio, o Taquari subiu 20 metros em poucas horas, o que pode ser comparado a uma “tsunami”.
O Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, monitorou o nível do Guaíba durante a catástrofe, forneceu previsões cruciais para a reconstrução. Essas previsões orientaram editais estaduais para a reconstrução de pontes e rodovias. Além disso, o governo federal tem utilizado critérios científicos para conceder ajuda financeira.
Vulnerabilidade da serra gaúcha e riscos de novos desastres
Áreas como a Serra Gaúcha estão particularmente vulneráveis, com possibilidade de aumento em até 3 metros nos níveis dos rios. Isso agrava o risco de novos desastres, o município de Santa Tereza, por exemplo, registrou 170 cicatrizes de deslizamentos em uma área de apenas 73 km². Em 40% da área estudada, foram identificadas 5 mil cicatrizes, com uma previsão final de até 12 mil.
Princípios para a reconstrução: Mapeamento e restaurações
Gean Paulo Michel, do grupo de pesquisa em desastres naturais da UFRGS, enfatiza a urgência de mapear áreas suscetíveis a deslizamentos e inundações. Isso é ainda mais importante com o início da realocação de famílias desabrigadas. A reconstrução deve seguir o princípio de “Build Back Better,” evitando a criação de novos riscos.
Além disso, Uwe Schulz, diretor da Aliança tropical de pesquisa da água, destaca a importância de restaurar áreas de várzea e matas ciliares. Visto que elas desempenham um papel vital na absorção de água e na proteção contra enchentes. Um estudo de Schulz identificou 7 mil remanescentes de brejos no Rio dos Sinos, a maioria com menos de 1 hectare, e destacou a necessidade de expandir essas áreas para prevenir futuros desastres.
A reconstrução sustentável no Rio Grande do Sul deve ser baseada em dados técnicos e científicos, com foco em prevenção. Isso garantirá que o estado esteja preparado para enfrentar futuros eventos extremos.
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